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  Entrevista com  Eva Rap Diva




Vai ser lançado, em Março, o primeiro CD da cantora Eva RapDiva. Conhecida pelas batalhas de freestyle em festas e movimentos de hip hop, a rapper angolana sonha criar uma fundação que defenda os direitos das mulheres e dos mais idosos. Frontal, Eva diz haver hipocrisia e falta de competência no meio musical angolano. Ainda assim, a também estudante de Direito, acredita que o rap nacional ainda tem muito para dar ao público
Encontramos Eva RapDiva no Kinaxixi, em pleno centro de Luanda. Esperávamos uma mulher de calças largas, sapatilhas, boné e t-shirt, mas fomos surpreendidos por uma 'executiva', vestida com um formal blazer. Era hora de almoço e Eva acabava de sair do escritório. Aos 25 anos, a estudante de Direito e gestora tem na forja o lançamento do seu primeiro disco. Crítica em relação ao mercado musical angolano, Eva RapDiva classifica o actual estado do hip hop angolano como “saudável”, mas alerta para o preconceito em relação às cantoras do sexo feminino.
A sua música 'Sexo, Drogas, Damas e Massa', criou polémica e foi interpretada de forma crítica por alguns dos seus colegas de profissão, mas a 'Diva' esclarece que não tem beefs (rixas) com qualquer outro rapper e que o recado não foi para nenhum músico em particular.
A também apresentadora de rádio partilha o microfone com Vui Vui, aos domingos, no programa Beat Box da Rádio Luanda e é protagonista, às terças-feiras à noite, de um programa que dá a conhecer os novos hits internacionais.
A residir em Angola há quatro anos, Eva começou no rap aos 12, em Portugal. O disco gravado desde Agosto do ano passado em Portugal, e masterizado nos Estados Unidos, será lançado no próximo mês de Março.
A meio da conversa com a Caju, juntou-se à mesa a mãe de Eva Marise Cruzeiro Alexandre (nome completo da cantora). Orgulhosa dos caminhos que a filha tem traçado, fez-lhe rasgados elogios. “Admiro-a não só como cantora, mas como pessoa. Ela é uma mulher dedicada e muito humana. Em relação à música, sempre lhe transmiti que a prioridade são os estudos”, afirmou Ana Paula.


Até há algum tempo defendia que não precisava de gravar e preferia manter-se no freestyle. A que se deve a mudança?

Na altura era assim que eu via as coisas. Comecei a cantar com 12 anos e defini-me como MC já nessa altura. Achava que não era importante gravar, porque isso já todos faziam. Era muito mais interessante subir ao palco, fazer algo momentâneo e 'jogar' com a plateia, pois assim iam identificar-se muito. Mudei de ideias quando percebi que podia chegar muito mais longe com músicas gravadas do que com as festas de hip hop onde fazia freestyle e batalhas. Percebi que estava a limitar-me.


Existe algum beef entre si e o rapper Abdiel? Trocaram alguns 'recados' pelas redes sociais...
Que eu saiba não. No movimento musical angolano a hipocrisia prevalece. As pessoas são falsas. E isso faz com que alguns artistas não estejam habituados a receber críticas, até mesmo as que não são direccionadas a si em particular. Basta alguém dizer algo, que o artista associa a si próprio e sente-se atacado. Eu fiz uma música chamada 'Sexo, Drogas, Damas e Massa', em que faço uma crítica generalizada, e algumas pessoas particularizaram. Sentiram-se afectadas por isso. Não tenho nada contra essas pessoas. Se elas se sentiram, de alguma forma, ofendidas por aquilo que disse, eu entendo, é normal, mas deixo bem claro que a minha intenção não foi essa. Por isso não posso dizer que tenho problema seja com o Abdiel, seja com outro artista.

Há quem diga que o NGA também se sentiu ofendido.
Não. Até porquê eu, em Portugal, vivia na mesma rua que o NGA. Conhecemo-nos desde crianças. É como se fossemos família. Por isso é impensável eu atacar o NGA, seja de que forma for, até porque é o artista de rap que mais admiro, sou fã dele e respeito o seu trabalho. A música que fiz não tem nada a ver com o NGA. Ele fala do que vive. Outros artistas sentem-se ofendidos porque sabem que não falam do que vivem. Inventam coisas nas músicas e por isso entenderam que a música era direccionada para eles. Nunca o NGA se iria sentir ofendido com aquela música.
Pertence a alguma produtora?
Não. Já tive algumas propostas, mas na verdade não consegui chegar a acordo com nenhuma. Tenho algum conhecimento sobre aquilo que é o mercado musical, algo diferente da maior parte dos artistas em Angola. Em Portugal estive sempre muito ligada a alguns donos de editoras, pessoas que fazem agenciamento e tenho amigos pessoais do ramo da música. Sei mais ou menos como é que as coisas devem funcionar, então fica um pouco difícil negociar. Há pessoas que têm produtoras e não percebem muito da coisa. Neste momento estou em negociações com uma produtora, com a qual me identifico, e quem sabe chegaremos a um acordo.


Está a dizer que no nosso mercado existem poucas produtoras que correspondam ao seu perfil?

Sim. Acho que as pessoas que trabalham no ramo da música em Angola, na sua maioria, não são competentes o suficiente.
Tem encontrado alguma barreira no hip hop por ser mulher?
Não acredito que haja barreiras. Acredito que há preconceito porque algumas pessoas acham que as mulheres são mais frágeis. E quando aparece uma mulher com a minha postura, a querer estar de igual para igual com os homens, as pessoas não aceitam muito bem, principalmente os artistas. Por ser mulher não quer dizer que não posso ser igual ou até melhor do que eles. Esta é a barreira que existe no nosso mercado. Tudo o resto é uma questão de trabalho e dedicação para conseguirmos ter as mesmas oportunidades.


Sente-se, de alguma forma, discriminada?

Algumas pessoas dizem-me que tenho cara de cantora de kizomba. Não sei se posso chamar isso de discriminação ou não. Dizem que não posso cantar rap como se o estilo fosse apenas para meninas com mau aspecto. É o que as pessoas me dão a entender.


Muitas das referências femininas do rap em Angola não estão no activo. Porquê?

Não sei exactamente os motivos de cada uma. Mas no geral, muitas delas desistiram porque decidiram constituir família e acharam que não dava para conciliar as duas coisas. Mas tenho a certeza absoluta de que a justificação de que não havia oportunidades não é verdadeira. Parte delas tiveram oportunidade de assinar por boas produtoras. Foram reconhecidas, ganharam prémios e tiveram muitos shows. Mas, se de alguma forma perceberam que precisavam de mais, eu entendo, porque cada pessoa tem as suas ambições. Comparado com os dias de hoje, acredito que elas tenham tido mais oportunidades. Fazer rap não é algo fácil e nem todas as pessoas têm a mesma determinação.


Como é que está o nosso rap feminino?

Esteve adormecido durante alguns anos. Agora surgiram novas artistas e cada uma está a tentar fazer a sua parte. Mas ainda assim, a nível mundial, este estilo tem uma tendência natural para ser mais abraçado por homens.


fonte (http://sol.sapo.pt/Angola/Interior.aspx?content_id=100117)por:Waldney Oliveira

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